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domingo, 4 de março de 2012

Triologia Milennium: Os livros


 "Sonhava com um galão de gasolina e um fósforo. Ela o via, encharcado de gasolina. Podia sentir fisicamente a caixa de fósforo na sua mão. A chacoalhava  e fazia um barulhinho. Ela a abria e escolhia um fósforo. Via  a boca dele dizer alguma coisa, mas tapava os ouvidos e não escutava as palavras. Via a expressão no rosto dele enquanto riscava o fósforo.  Escutava o roçar de enxofre no riscador. Parecia um trovão demorado. Via a ponta do fósforo se inflamar.
Esboçou um sorriso totalmente desprovido de alegria e endureceu.
Aquela era a noite dos seus treze anos."  (A menina que brincava com  fogo)
A denominada triologia Milennium é composta pelos livros: Os homens que não amavam as mulheres,  A menina que brincava com fogo, e  A rainha do castelo de ar. O autor é Stieg Larsson que morreu  pouco tempo depois de enviar os livros para editora, não vivendo para ver o auge da triologia. A série se tornou um grande sucesso de vendas no seu país de origem, a Suécia e em seguinte no mundo todo, conseguindo bastantes fãs. Em pouco tempo foram lançados, 3 filmes suecos (cada um referente a  um livro) e recentemente um filme de Hollywood, Milennium -Os homens não que amavam as mulheres.  Bem,  a verdade é que  há pouco mais de um mês, eu não sabia da existência dessa história.  Foi numa ida ao cinema,  que eu vi o cartaz do filme norte-americano (que e eu assisti), e descobri que era baseado em livros.  Como eu tenho uma grande queda por boas histórias de mistérios (deve ser o gênero de romance que mais leio), comprei os 3 volumes. E com uma grande voracidade, li em 10 dias as mais de 1800 páginas da triologia (realmente um tempo recorde para mim). E não me arrependi. Foi uma ótima experiência.Tudo muito contagiante.
A narrativa e os personagens são muito bons. Talvez seja isso aliado a curiosidade de ter todas as informações sobre os personagens principais(que são cativantes), e uma grande vontade de ler, que me fizeram terminar tão rápido, dedicando quase todo o meu tempo livre a leitura, e ficando acordada até tarde empenhada nessa tarefa.
No primeiro livro,  Os homens que não amavam as mulheres somos apresentados a um mistério envolvendo o idoso e rico Henrik Vanger e sua família, além dos personagens principais Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander. Mikael é  um jornalista idealista, que gosta de denunciar pessoas e problemas  que afetam o seu país, principalmente empresários e poderosos inescrupulosos, e suas práticas. Ele trabalha na revista Milennium, da qual é sócio. Após uma matéria sobre um poderoso empresário, que se mostra falsa, ele acaba sendo processado, condenado e  perde sua credibilidade. Nesse contexto, ele recebe a proposta de Henrik Vanger para investigar um crime que aconteceu há quase 40 anos, o desaparecimento e provável assassinato de sua sobrinha-neta, Harriet com 16 anos na época. Mikael acaba aceitando e contra todas as espectativas descobre novas pistas, e entra numa trama que envolve nazismo, perversão e assassinatos seriais.  Em paralelo, é apresentada, a genial, punk , hacker Listbeth. Ela é uma excelente investigadora, e faz um perfil de Mikael para Henrik, antes desse o contratá-lo, e acaba (mais no final,  os dois em ação são ótimos, mas isso não acontece logo)  se unindo ao jornalista na sua investigação sobre Harriet.
A história do livro é interessante, o mistério principal e a narrativa sobre Lisbeth acabam mostrando indivíduos que justificam o seu título. Os homens que não amavam as mulheres, são homens que as odeiam, cometem violência contra elas, se aproveitam de situações,  as humilham e as matam. Cada bloco é introduzido com estatísticas relativas à violência contra mulheres cometidas na Suécia. O clima do livro é frio, cru, mostrando de certa forma as almas frias e objetiva de algumas pessoas, como se  fossem contagiadas pelo país gelado. Asssim, não se espantem com a violência bem presente na narrativa. Lisbeth vem com um certo objetivo, ela é uma mulher de 1 metro e meio, com menos de 50 quilos, cheia de tatuagens, piercings, roupas e acessórios pretos. Considerada mentalmente incapaz pelo estado, agindo de forma rude, com poucas relações, com dificuldade de se aproximar das pessoas e causando opiniões diversas em quem a conhece. Ela seria uma vítima perfeita, como pensa o personagem Dragan Armansky.  E ela realmente, sofre violência dos homens em sua trajetória. Mas em vez de se resignar, ela contra-ataca. Se torna uma oponente bem perigosa, e seguindo a sua própria moral, acaba tomando as dores de diversas mulheres para si, vingando a si mesma e as outras. È uma personagem apaixonante, que apesar do seu brilhantismo, e força de caráter,  tem uma baixa auto-estima em diversos aspectos. Talvez seja a mais cativante da história, e acredito que para muitos, é a grande razão de lê-los.
Há ainda  Mikael, que é mostrado como um  mulherengo (o mais engraçado é que normalmente as mulheres  tomam a iniciativa, e ele se envolve com  pelo menos duas por livro), um homem que ao contrário, ama e respeita as mulheres, com quem as pessoas se sentem a vontade (principalmente as mulheres),  sensual, íntegro, trabalha de forma compulsiva, e apesar de ser desconfiado em certas ocasiões, age de forma ingênua e otimista em outras. Possui uma confiança inabalável em Lisbeth, apesar do jeito fechado da moça. Blomkvist também me conquistou. E o fato de gostar tanto dos dois protagonistas, já tornou o livro mais fácil de ler para mim. Além desses, há ainda pelo menos mais dois personagens que cairam no meu gosto Dragan Armansky, eficiente e muito íntegro e Henrik Vanger, um homem admirável, vivendo numa família de loucos e nazistas, que ao contrário, era um homem que amava as mulheres, e apesar das desconfianças de Mikael e de certa forma enganá-lo, me pareceu um grande homem, verdadeiro até certo limite e que se interessava de verdade pelas pessoas que achava merecedoras.
Tenho que admitir que algumas histórias acontecidas com Mikael poderiam ter sido cortadas,  já que não tiveram tanta importância, apesar, de certa forma, ter melhorado a caracterização do personagem, um relacionamento ou outro poderia não ter acontecido, as coisas relativas a revista milennium poderiam ter um participação menor no livro (que é longo). Em contraposição, seria interessante ter aprofundado mais os personagens suspeitos do caso de Harriet, colocando mais evidências e mais pessoas com motivos  para fazer mal a  menina. Tornando o mistério bem difícil de decifrar. Outra coisa é que o encontro entre Lisbeth e Mikael demora muito a acontecer, em certos ponto pode até se perguntar, afinal, por que estão mostrando esses dois persongens, qual é a ligação dos dois, por que não se juntam logo? Assim acho que seria melhor  ter acontecido mais cedo,  a investigação conjunta poderia ter ocupado um espaço maior, pois é realmente nesse ponto que as coisas pegam fogo. Mas isso não atrapalha tanto.
O livro que eu mais gostei foi justamente o primeiro. É o que tem menos falhas para mim,  tem um mistério fechado e interessante, onde os principais não são o foco, e onde são colocadas algumas pista e uns ganchos para os próximos, mas nada que faça buracos de entendimento, pois ele é algo completo por si só, deixando apenas as histórias dos personagens continuarem. È também o que tem a trama mais crível, já que os próximos se voltam para a estória de Lisbeth, que adiciona elementos conspiratórios, espionagem, personagens bizarros e que toma proporções de certa forma bem irrealistas.
O segundo livro, A menina que  brincava com fogo começa com Mikael e outros jornalistas da Milennium envolvidos com uma investigação da indústria sexual na Suécia, o nome Zala aparece, fazendo com que Lisbeth se interesse, e comece a investigar separadamente. Mas ela acaba envolta em uma espécie de armadilha, sendo acusada de de uma triplo assassinato e procurada em todo o país.
Essa estória acaba dando um vislumbre do passado de Lisbeth, mostrando uma série de abusos e conspirações da qual ela foi vítima desde a infância. Alguns personagens como Miriam Wu, a amiga lésbica e parceira de Lisbeth são minuciados. As duas possuem um relacionamento diferente, onde compartilham uma certa confiança mas sem muito aprofundamento ou amor. O comportamento de Lisbeth e suas relações fazem dela um alvo da mídia, que arma um circo com o caso, colocando-a como uma lésbica satanista, psicopata e assassina antes mesmo de um julgamento ou uma investigação mais apurada. É claramente uma crítica a mídia sensacionalista. A dificuldade de lidar com sentimentos também acaba afastando Libeth de Mikael.  E eu realmente senti falta da parceria dos dois. Fiquei bem empanhada na história, mas torcia bastante para eles agirem juntos.
Do outro lado, Mikael fica sem entender o sumiço de  Lisbeth , com o tempo ele se empenha na  nova investigação da revista, mas os assassinatos acaba trazendo o "fantasma" dela de volta. Entendendo-a de forma genuína, ele é único que acredita na sua inocência, e começa a investigar para prová-la. A indústria sexual, as autoridades e pesssoas envolvidas nela acabam virando o seu alvo, e ele descobre uma trama mais complicada ainda, envolvendo acobertamento, e espiões. Bem teoria da conspiração né? haha. Mas até que deu para digerir.
Há algumas partes que evidentemente poderiam ter sido cortadas, como toda a parte de Lisbeth em Granada, ou mesmo a obsessão dela pela matemática e o teorema de Fermat (apesar de que eu gostei dessa última, já que esse tipo de assunto também me fascina , e eu mesma sempre achei esse teorema interessante), há também uma possível gravidez de Mia Bergman (a noiva do novo colaborador da Milennium, Dag Svensson, responsável pelo dossiê sobre trafico de mulheres ), que foi de nada a lugar nenhum. haha, e até mesmo grande parte das aparições de uma personagem do livro anterior. Cada bloco dessa vez é iniciado com equações. E eu  não achei a trama fechada, já que o seu final deixa muitas repercussões e resoluções para o livro posterior. 
O último livro, A rainha do castelo de ar, começa com Lisbeth bastante ferida e se recuperando num hospital. Em paralelo uma equipe de espiões se junta e começa a agir para encobrir as suas ações, inclusive cometendo atos ilícitos para isso. Lisbeth continua sendo acusada de alguns crimes e Mikael junto com a Milennium faz uma investigação minuiciosa, preparando quase uma força tarefa, envolvendo amigos e até representantes do governo com o intuito de libertá-la  e revelar toda a sujeira da qual ela foi vítima.
A narrativa desse livro talvez seja a mais problemática para mim, é a mais conspiratória, envolvendo personagens da alta esfera governamental e outras pessoas importante no sua elucidação e desenvolvimento. Sei lá, talvez eu preferisse que Lisbeth pudesse continuar na sudina, investigando as coisas como sempre, mas depois dos dois últimos livro, ela ficou bem conhecida tanto pela população geral sueca (depois dela ser o cargo chefe nas manchetes dos jornais, e tema da reportagem denúncia da Milennium)  e pelo governo, inclusive que mais de um primeiro-ministro interfere para resolver o caso dela. Achei surpreendente ela não ser reconhecida na sua viagem final ao exterior. Será que o povo tem memória tão fraca? Haha. Sei lá, só acho que os problemas dela não deveriam ter atingido tal dimensão. Eu gostava dela desconhecida como uma pessoa comum, não precisava se tornar tão importante assim e com uma história tão complexa.
Os blocos no último livro são iniciados por lendas e histórias sobre mulheres guereiras. E durante ele fica evidente que há homenagens ás mulheres fortes, várias delas aparecem na narrativa, além da própria Lisbeth Salander, há ainda Erika Berger (a amiga e amante de longa data de Mikael, que também é sócia da Milennium), Monica Figueroa ( que teve o nome traduzido para Rosa, a agente secreta, inteligente e fortona), Annika Giannini (irmã de Mikael e advogada de Lisbeth), Sonja Modig (policial que participa de investigações relacionadas a Lisbeth), Miram Wu, dentre outras. São mulheres que vivem num mundo masculino, cercada por chefes homens, são muito eficiente em suas profissões, mas recebem golpes baixos e sofrem abusos. Entretanto continuam de pé, se mostrando melhores do que a maioria dos homens, e muitas vezes têm que abdicar da vida pessoal, ou seja ter ou dar atenção ao namorado, marido ou filhos, para mostraram o seu valor no trabalho. São as guerreiras atuais. Essa homenagem é interessante.
Entretanto uma das partes mais chatas para mim, é justamente uma que exemplifica isso. Toda a história relativa a Érika e seu trabalho em um outro jornal, foi difícil ler e não trouxe nada tão importante, sério, o livro é bem grande e eu ficaria mais satisfeita sem ela, ou pelo podia ter sido diminuida. Outra parte que achei chata foi uma narrativa longa a respeito da formação do serviço secreto e. de uma divisão especial A viagem final de Lisbeth poderia ter sido reduzida também para ter chegado mais rápido ao fim. E o fato de Lisbeth ficar a maior parte do tempo no hospital, me fez sentir falta de vê-la em ação, mais no final, quando ela se recupera, essa sensação foi se diluindo para mim, mas mesmo assim ainda estava presente. Entretanto a parte do jugamento compensou, fiquei bem ansiosa com ele, e gostei (apesar de achá-lo um pouco estranho, e algumas situações relacionadas ao interrogatório exageradas). E também foi interessante ver a forma que Mikael agiu com os conspiradores.
Referente a todos os livros, as vezes a mania do autor de descrever me irritava, parecia que ele estava contando a história para cenografistas ou estilistas, afinal o que importava se uma personagem x (que não era nem principal), acordou, tomou suco de laranja com torradas, vestiu um tênis branco com uma calça azul e  uma blusa laranja e foi correr? Sério, eu queria mais é ver o desenrolar das ações, e não descrições detalhadas  (e que se repetia) da roupa e o que uma personagem comia em partes cotidianas, bastava saber que comeu e se vestiu. 
 O último livro  fechou a sua trama, mas ainda fica uma certa deixa, com os personagens resolvendo grande parte dos conflitos e aquela sensação de E agora o que acontecerá? Segundo contam, a ideia de Stieg Larsson seria escrever mais aventuras de Lisbeth e Mikael. Mas sua morte precoce interrompeu isso, há inclusive um livro que ele deixou incompleto. A verdade é que a leitura foi uma experiência tão boa ( eu  realmente recomendo os livros) que gostaria bastante de mais histórias com esses personagens, e quando eu terminei de ler tudo, senti uma certa tristeza, pois não não teria mais. Mas eu posso deixar a minha imaginaçãos solta, e fantasiar que Lisbeth e Super Blomkvist continuam resolvendo mistérios e desmascarando pessoas na Suécia. Posso, ou não?
 * Para quem gostou dessa postagem: http://singularpqu.blogspot.com/2012/02/millenium-os-homens-que-nao-amavam-as.html

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